Quando já era adolescente, Alcabideche permaneceu no mesmo estado social e arquitetónico, mudara apenas o relevo que alguns homens dedicados ao estudo da evolução histórica do concelho, como Guilherme Cardoso, conseguiram dar ao poeta islâmico, aos moinhos e aos ventos.
A partir dos anos noventa do século passado chegaram em força os serviços e o comércio. O centro económico do concelho tendeu a fugir da beira-mar, como se as praias lhe fossem desfavoráveis. A freguesia cresceu demograficamente, ultrapassando o Estoril e Carcavelos e equiparando-se a Cascais. No entanto, embora os políticos devessem ter pressionado as decisões municipais, para que esta terra deixasse de ser o lugar dolorosamente secundário que sempre foi mas que agora está, claramente, desajustado em relação ao seu estatuto económico e social.
Quem passa no centro de Alcabideche e vê o estado dos passeios e das casas, a fealdade do largo e a ausência de plantas pode pensar que a única função daquela rua é conduzir ao shopping.
O antigo restaurante do Tirano continua esquecido, a avançar aceleradamente para a ruina e o desabamento. Talvez, numa destas noites, caia com estrépito e acorde todos os cidadãos desta terra. Um espaço daqueles pode ser aproveitado para o bem comum.
Se formos às outras localidades, deparamos com o mesmo panorama deprimente. O centro de Manique é um bom exemplo.
Por cada milhão de euros aplicados pelo município em Alcabideche quantos são aplicados nas freguesias à beira-mar, especialmente em Cascais? É bom que os cidadãos eleitores comecem a exigir mais dos políticos que elegem e deixem de eleger aqueles que não tem cumprido a sua missão. Têm direito, como os outros, a museus, bibliotecas, parques, equilíbrio urbanístico, apoio aos mais desfavorecidos, ou seja, ao bem-estar social.
Não pode haver bem-estar social em localidades onde as pessoas apenas podem sair à rua se andam coladinhas às paredes, para não serem atropeladas, e se querem um local aprazível têm de procurá-lo na sua imaginação.
António Costa
Nota editorial: este artigo foi escrito em Agosto de 2013, pelo que algumas situações teriam sido agora por certo descritas de modo diferente. No entanto a essência é atual.
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