sexta-feira, 25 de abril de 2014

Abril

Havia a guerra, que se tinha tornado insustentável. Havia os militares, dispostos a tudo para pôr fim à sangria que há anos se fazia na África colonial portuguesa. Havia um povo descrente de si próprio e proibido de se expressar, de se realizar, de ser ele próprio.
Muitos fugiram à guerra, outros à penúria. Os insubmissos e os corajosos, resistiram na crítica e na acção clandestina, pagando o preço mais caro, com torturas, prisões, desterros e mortes.
Assim se passaram vidas.

Até essa à madrugada que tudo mudou, e devolveu os portugueses a si próprios.



Os militares foram à frente, ocupando ruas, rádios, pontes, baluartes, correndo os maiores riscos. O povo, desperto da letargia, lançou-se nas ruas, num misto de deslumbramento e de espanto. O medo agonizou em cada peito inundado pelo ar fresco da liberdade. Depois, a gente calada e sisuda relembrou num ápice o que sempre soubera e há muito esquecera: A expressão para além do medo, a luz das ideias, a sede de paz, a festa da mudança e tudo o que em décadas se sentira e jamais se expressara. Liberdade.


Carlos Silva

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