O Povo costuma dizer: “Quando vão para o poder são todos
iguais”.
E assim tem parecido, ao longo dos tempos, numa grande
maioria de casos.
Mas porquê?
Será que o acesso privilegiado a informações confidenciais
muda o sentido de justiça de cada um?
Será, como dizem outros, que quando se passa a ter uma visão
global sobre o território e as suas componentes, sobre a totalidade dos agentes
económicos, sobre a globalidade das perspectivas, necessariamente isso implica
uma mudança de agulheta, desde uma anterior defesa da natureza, dos
trabalhadores, das pessoas, para a defesa dos interesses dos grandes financeiros,
da especulação imobiliária, de investidores sem escrúpulos?
Será que a ida para um poder local ou nacional provoca uma
epifânia em cada membro: “ah, como eu estava enganado, afinal os investidores
especuladores é que tinham razão”?
E será que tantos serão facilmente permeáveis à ideia de que,
como me disseram uma vez assim que fui indigitada para coordenar uma equipa de
trabalho numa grande empresa: “Olha que agora já não é um índio, é chefe dos
índios, tem de manter a distância e mandar!” ?
Mas não, poder local, poder governativo, não trata de “mandar”.
Trata de ouvir, perceber, coordenar, indagar, estudar, e decidir. Trata de
esclarecer, partilhar, colaborar. Trata de servir.
Porque é que isto se transforma tão rápido quando um
indivíduo eleito ocupa um lugar de poder governativo?
A apetência em fazer fazer parte do grupo dos poderosos será
assim tão vertiginosa, a insegurança e convicção dos eleitos tão periclitante
assim? “Fazer parte de”, já dizem estudos psicológicos, é fundamental para cada
ser humano. Mas antes de serem eleitos para a governação faziam parte do grupo
da maioria, dos trabalhadores, dos que defendem a protecção dos desfavorecidos,
da conservação da natureza, da preservação do bem estar e de cuidados de
cidadãos e cidadãs... Porque mudam de lugar?
Poderá aqui existir outro factor: quem rodeia os que vão
para o poder, sem parar de lhes “roer o calcanhar” são de facto os poderios
económicos e financeiros. Os”lobbies”. Os que se organizam e pagam para
influenciar as decisões em seu favor.
Quanto aos trabalhadores, esses, confiam.
Confiam, e só quando algo lhes “cheira a esturro”, quando
têm uma surpresa grave que afecta demais a sua sobrevivência, quando vêem o seu
território inveitavelmente destruído, reajem. Tarde.
Porque compete a cada
um exercer o controlo, a fiscalização sobre o poder.
Em cada minuto. Sempre.
Depois deste encadear de pressupostos e argumentos, acabo
por concluir que a demissão da
participação cidadã será a raiz principal da corrupção numa democracia.
Amoreira, 23 de Maio de 2014
Paulina Esteves
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