sexta-feira, 23 de maio de 2014

Pensamentos sobre o fascínio do Poder governativo - autárquico e outros

O Povo costuma dizer: “Quando vão para o poder são todos iguais”.
E assim tem parecido, ao longo dos tempos, numa grande maioria de casos.
Mas porquê?
Será que o acesso privilegiado a informações confidenciais muda o sentido de justiça de cada um?
Será, como dizem outros, que quando se passa a ter uma visão global sobre o território e as suas componentes, sobre a totalidade dos agentes económicos, sobre a globalidade das perspectivas, necessariamente isso implica uma mudança de agulheta, desde uma anterior defesa da natureza, dos trabalhadores, das pessoas, para a defesa dos interesses dos grandes financeiros, da especulação imobiliária, de investidores sem escrúpulos?


Será que a ida para um poder local ou nacional provoca uma epifânia em cada membro: “ah, como eu estava enganado, afinal os investidores especuladores é que tinham razão”?
E será que tantos serão facilmente permeáveis à ideia de que, como me disseram uma vez assim que fui indigitada para coordenar uma equipa de trabalho numa grande empresa: “Olha que agora já não é um índio, é chefe dos índios, tem de manter a distância e mandar!” ?


Mas não, poder local, poder governativo, não trata de “mandar”. Trata de ouvir, perceber, coordenar, indagar, estudar, e decidir. Trata de esclarecer, partilhar, colaborar. Trata de servir.
Porque é que isto se transforma tão rápido quando um indivíduo eleito ocupa um lugar de poder governativo?
A apetência em fazer fazer parte do grupo dos poderosos será assim tão vertiginosa, a insegurança e convicção dos eleitos tão periclitante assim? “Fazer parte de”, já dizem estudos psicológicos, é fundamental para cada ser humano. Mas antes de serem eleitos para a governação faziam parte do grupo da maioria, dos trabalhadores, dos que defendem a protecção dos desfavorecidos, da conservação da natureza, da preservação do bem estar e de cuidados de cidadãos e cidadãs... Porque mudam de lugar?

Poderá aqui existir outro factor: quem rodeia os que vão para o poder, sem parar de lhes “roer o calcanhar” são de facto os poderios económicos e financeiros. Os”lobbies”. Os que se organizam e pagam para influenciar as decisões em seu favor.
Quanto aos trabalhadores, esses, confiam.
Confiam, e só quando algo lhes “cheira a esturro”, quando têm uma surpresa grave que afecta demais a sua sobrevivência, quando vêem o seu território inveitavelmente destruído, reajem. Tarde.
Porque compete a cada um exercer o controlo, a fiscalização sobre o poder.
Em cada minuto. Sempre.

Depois deste encadear de pressupostos e argumentos, acabo por concluir que a demissão da participação cidadã será a raiz principal da corrupção numa democracia.


Amoreira, 23 de Maio de 2014

Paulina Esteves

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