domingo, 11 de maio de 2014

Aga Khan e a Quinta dos Ingleses

São bastante notórios os traços comuns entre os dois mais polémicos projectos imobiliários que o Município de Cascais está a promover no concelho: Os empreendimentos de Carcavelos-Sul e de Areia-Guincho.

Em ambos os casos pretende-se construir em consideráveis extensões e volumetrias, ocupando com cimento e betão terrenos onde a paisagem não se encontra humanizada.

Ambos os empreendimentos revelam por parte do município uma veneração dos interesses privados em prejuízo de interesses públicos e das comunidades, cuja opinião é ignorada ou mesmo desprezada e hostilizada.

Ambos os projectos se revelam de muito pouca utilidade para as comunidades onde está previsto serem implantados, descaracterizando e banalizando a paisagem das zonas onde se pretendem edificar.

Ambas propõem-se retirar aos moradores o usufruto de áreas de passeio e circulação pedonal livres e concorrer para a degradação da paisagem e dos solos introduzindo-lhe betão, cimento, vidro e asfalto, banindo elementos naturais como terra, flora e fauna.

Ambos pretendem ignorar que é verdadeira qualidade de vida - e igualmente um prazer muito grande para quem ali mora - olhar a paisagem ampla sem se deparar com edifícios, percepcionar os campos e os elementos naturais, acolher nos sentidos o som do vento nas árvores, o canto das cigarras, dos grilos e de centenas de aves que ali nidificam.





O município deve perceber que a maior parte dos moradores preferirá este tipo de usufruto que a paisagem actual vai proporcionando, a ter em troca mais estradas, mais ruído de automóveis e mais edifícios pretensiosos - para exclusiva fruição de uns poucos - no recorte da sua paisagem envolvente.

Em ambos os casos, o município em vez de zelar pelo bem-estar de todos os cidadãos do concelho, mostra-se prioritariamente preocupado com a satisfação dos interesses dos que se dedicam ao negócio imobiliário ou ao negócio gerado com um determinado conceito de turismo.

Turismo, que não é o turismo cultural, nem ecológico, nem desportivo, nem gastronómico, nem histórico, nem popular, nem tão pouco para as classes médias.

O governo municipal, ao patrocinar projectos como os supra referidos apenas está a dar primazia aos interesses dos que constroem, vendem compram e alugam habitações de luxo e dos que constroem e vendem alojamento em hotéis chiques, promovendo o turismo das elites que são o seu mercado.

Está-se portanto a promover um turismo de preços altos, em parcelas significativas da nossa paisagem natural para favorecer estratos minoritários e privilegiados da população, que constituem os lusofundos, os norfins e outras associações mais ou menos obscuras de interesses.

Ora, o problema é o monolitismo e a falta de equidade desta opção. 

A questão é que o turismo de casino, de negócios e de golf é um turismo que emprega pouco e reparte pouco com outros pequenos negócios da nossa terra.

Mesmo que lhe acrescentemos à equação actividades como as regatas e as passeatas em automóveis antigos, a questão mantêm-se: O benefício dos moradores e das comunidades não é - nem de perto, nem de longe - compensador de tudo o que Cascais perde - para sempre - em termos paisagísticos e ao nível do seu património natural e ambiental.

Se não veja-se: Além de perderem em património e paisagem natural, o que ganham os munícipes com a presença dominante do turismo de alta sociedade?



Na restauração apenas beneficia a de alta cozinha e alto preço, ou seja uma parte minúscula da boa restauração que o concelho oferece.
Entretanto uma parcela importante do pequeno comércio de restauração no concelho, definha e em muitos casos, fecha portas.
Em alternativa precisamos de um turismo que não funcione num circuito fechado (entre pessoas abastadas), fazendo prosperar grandes grupos e fundos empresariais. Precisamos de um turismo que beneficie verdadeiramente todo o nosso tecido empresarial - quase só micro e PMEs - e que gere emprego com direitos para a população do concelho.

E no que concerne à implementação futura de mega-projectos urbanísticos, é necessário que se entenda que as necessidades das pessoas e das comunidades residentes têm que ser contempladas nos projectos que se pretendam concretizar e que o património natural e paisagístico - sendo o maior tesouro do concelho de Cascais - é de todos os seus habitantes.

É à volta da beleza do património natural de Cascais que se constrói o seu projecto de turismo. 
Por isso tenham o bom senso de não destruir esse património que é de todos. 


Carlos Silva

1 comentário:

  1. o vosso comentário é muito jussto e objectivo; ocorre-me palavras como "gentrificação" geto de milionários e veja-se as implicações a nível de impostos; as casas dos milionários e os seus respectivos barquinhos , aviões e outros equipamentos estão registados em offshores e cabe aos do costume arcar com as despesas!...talvez seja de meditar o porquê desta gerência estar sempre a pender para o lado do jetset com pretensões a principado de monaco...

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