São bastante notórios os traços comuns entre os dois mais
polémicos projectos imobiliários que o Município de Cascais está a promover no
concelho: Os empreendimentos de Carcavelos-Sul e de Areia-Guincho.
Em ambos os casos pretende-se construir em consideráveis
extensões e volumetrias, ocupando com cimento e betão terrenos onde a paisagem
não se encontra humanizada.
Ambos os empreendimentos revelam por parte do município uma veneração dos interesses privados em prejuízo
de interesses públicos e das comunidades, cuja opinião é ignorada ou mesmo
desprezada e hostilizada.
Ambos os projectos se revelam de muito pouca utilidade para
as comunidades onde está previsto serem implantados, descaracterizando e banalizando a paisagem das zonas
onde se pretendem edificar.
Ambas propõem-se retirar aos moradores o usufruto de áreas
de passeio e circulação pedonal livres e concorrer para a degradação da paisagem e dos solos introduzindo-lhe betão, cimento, vidro e asfalto, banindo elementos naturais
como terra, flora e fauna.
Ambos pretendem ignorar que é verdadeira qualidade de vida -
e igualmente um prazer muito grande para quem ali mora - olhar a paisagem ampla
sem se deparar com edifícios, percepcionar os campos e os elementos naturais, acolher
nos sentidos o som do vento nas árvores, o canto das cigarras, dos grilos e de
centenas de aves que ali nidificam.
O município deve perceber que a maior parte dos moradores preferirá este tipo de usufruto que a paisagem actual vai proporcionando, a ter em troca mais estradas, mais ruído de automóveis e mais edifícios pretensiosos - para exclusiva fruição de uns poucos - no recorte da sua paisagem envolvente.
Em ambos os casos, o município em vez de zelar pelo bem-estar
de todos os cidadãos do concelho, mostra-se prioritariamente preocupado com a
satisfação dos interesses dos que se dedicam ao negócio imobiliário ou ao
negócio gerado com um determinado conceito de turismo.
Turismo, que não é o turismo cultural, nem ecológico, nem desportivo,
nem gastronómico, nem histórico, nem popular, nem tão pouco para as classes
médias.
O governo municipal, ao patrocinar projectos como os supra
referidos apenas está a dar primazia aos interesses dos que constroem, vendem
compram e alugam habitações de luxo e dos que constroem e vendem alojamento em
hotéis chiques, promovendo o turismo das elites que são o seu mercado.
Está-se portanto a promover um turismo de preços altos, em parcelas significativas da nossa paisagem natural para favorecer estratos minoritários
e privilegiados da população, que constituem os lusofundos, os norfins e outras
associações mais ou menos obscuras de interesses.
Ora, o problema é o monolitismo e a falta de equidade desta opção.
A questão é que
o turismo de casino, de negócios e de golf é um turismo que emprega pouco e
reparte pouco com outros pequenos negócios da nossa terra.
Mesmo que lhe acrescentemos à equação actividades como as regatas e as passeatas em automóveis antigos, a questão mantêm-se: O benefício dos moradores e das comunidades não é - nem de perto, nem de longe - compensador de tudo o que Cascais perde - para sempre - em termos paisagísticos e ao nível do seu património natural e ambiental.
Mesmo que lhe acrescentemos à equação actividades como as regatas e as passeatas em automóveis antigos, a questão mantêm-se: O benefício dos moradores e das comunidades não é - nem de perto, nem de longe - compensador de tudo o que Cascais perde - para sempre - em termos paisagísticos e ao nível do seu património natural e ambiental.
Se não veja-se: Além de perderem em património e paisagem natural, o que
ganham os munícipes com a presença dominante do turismo de alta sociedade?
Na restauração apenas beneficia a de alta cozinha e alto
preço, ou seja uma parte minúscula da boa restauração que o concelho oferece.
Entretanto uma parcela importante do pequeno comércio de
restauração no concelho, definha e em muitos casos, fecha portas.
Em alternativa precisamos de um turismo que não funcione num circuito fechado (entre pessoas abastadas), fazendo prosperar grandes grupos e fundos empresariais. Precisamos de um turismo que beneficie verdadeiramente todo o nosso tecido empresarial - quase só micro e PMEs - e que gere emprego com direitos para a população do concelho.
E no que concerne à implementação futura de mega-projectos urbanísticos, é necessário que se entenda que as necessidades das pessoas e das comunidades residentes têm que ser contempladas nos projectos que se pretendam concretizar e que o património natural e paisagístico - sendo o maior tesouro do concelho de Cascais - é de todos os seus habitantes.
É à volta da beleza do património natural de Cascais que se constrói o seu projecto de turismo.
Por isso tenham o bom senso de não destruir esse património que é de todos.
Carlos Silva
o vosso comentário é muito jussto e objectivo; ocorre-me palavras como "gentrificação" geto de milionários e veja-se as implicações a nível de impostos; as casas dos milionários e os seus respectivos barquinhos , aviões e outros equipamentos estão registados em offshores e cabe aos do costume arcar com as despesas!...talvez seja de meditar o porquê desta gerência estar sempre a pender para o lado do jetset com pretensões a principado de monaco...
ResponderEliminar