Em nome do amor e respeito a esta língua, que tão bem nos serve e expressa, continuaremos escrevendo como nos foi ensinado.
Porque este acordo nos oprime diminui e entristece, resolvemos escrever, a quatro mãos, algumas
linhas sobre este assunto:
linhas sobre este assunto:
Ler e deparar com a língua mutilada, desdentada, onde faltam letras, se confundem
significados e se baralham sons...
significados e se baralham sons...
Uma língua diminuída, atamancada e regredida de uma só penada; uma língua que regrediu por
decreto; decreto que imediatamente se cristalizou em manuais... E porquê?
decreto; decreto que imediatamente se cristalizou em manuais... E porquê?
Não porquê mas para que, fosse fácil, fingisse ser outra... para que os portugueses entendessem
finalmente que_nada daquilo a que chamam seu lhes pertence, mas antes é propriedade de quem os
governa.
Alguém teve o poder para mudar a nossa língua, sem qualquer consulta séria ou discussão. A língua!
A suprema alquimia de um povo!
E que fazem os portugueses perante tal atentado? Obedecem. Imediatamente.
Totalmente. Nos jornais, livros, blogues... Os portugueses obedecem. Cega e totalmente. E mesmo
observando o desnorteamento e tristeza profunda de muitos dos seus compatriotas, continuam
obedecendo. À esquerda e à direita poucos são os cidadãos que, podendo, falam sobre este assunto,
este pesadelo, esta demonstração máxima da prepotência e ignorância que nos domina.
observando o desnorteamento e tristeza profunda de muitos dos seus compatriotas, continuam
obedecendo. À esquerda e à direita poucos são os cidadãos que, podendo, falam sobre este assunto,
este pesadelo, esta demonstração máxima da prepotência e ignorância que nos domina.
Ah povo ajoujado e manipulável.
Que esperas tu que te aconteça, se nem para defender a tua língua mãe te ergues?
Aqui seguem alguns argumentos, pedimos que reflictam sobre eles e os acrescentem, de forma a que
voltemos a este assunto, aprofundando-o.
voltemos a este assunto, aprofundando-o.
Custa muito, perceber que esta mutilação da nossa língua é feita sem qualquer benefício. Os que a isto
respondem que o acordo é feito por causa da «necessidade de uniformização do português» estão a ser
falaciosos: justificam o acto com uma necessidade, quando essa necessidade é o que que fica
justamente por provar. Uniformizar porquê, para quê? Vale a pena lembrar que os ingleses, os
norte-americanos, os australianos, se entendem perfeitamente, e que as diferenças no modo como
cada um adapta a si a língua são um enriquecimento, não um empobrecimento?
O português de Portugal é a fonte, e enquanto tal deveria permanecer como
uma referência. Qual a importância de haver uma referência? É fundamental. É imprescindível quese possa recorrer a um modelo que transporta em si os sinais da origem. Deve haver um
respeito pela etimologia das palavras, pela história da sua formação, sem o qual a língua se torna
unicamente um instrumento. Sem História, sem tradição, sem identidade. Sem força.
Significa isto que a língua não pode transformar-se? Que faria sentido escrevermos ainda "pharmacia"?
Não. Significa simplesmente que essa transformação deve ocorrer naturalmente, em vez
de ser imposta em nome de uma estratégia política; e que registar a mudança, exige uma
coerência e um suporte científico que faltaram completamente neste acordo. Assistimos a uma simplificação arbitrária, a um desbastamento, sem razão, de acentos e de consoantes mudas, imposto certamente por pessoas que não compreendem o sentido desses acentos ou dessas consoantes, e para quem escrever "ata" (verbo atar) não é diferente de escrever "ata" (substantivo: a
acta de uma reunião).
Mais do que isto, a simplificação arbitrária de uma língua corresponde a um afunilamento que terá
consequências: 1. Na oralidade dos portugueses, a médio prazo, para começar. No caso de um povo
que_já tende a fechar as vogais, "espetador" [espectador] ou receção [recepção]
acabarão_por ser pronunciados exactamente como "espetador" [o que espeta] e
"recessão". Mas também, 2. Consequências intelectuais: a falta de exigência e de rigor, o uso de um_instrumento abastardado e rudimentar, em vez de uma língua rica e
carregada de subtileza, é uma forma de estupidificação.
respondem que o acordo é feito por causa da «necessidade de uniformização do português» estão a ser
falaciosos: justificam o acto com uma necessidade, quando essa necessidade é o que que fica
justamente por provar. Uniformizar porquê, para quê? Vale a pena lembrar que os ingleses, os
norte-americanos, os australianos, se entendem perfeitamente, e que as diferenças no modo como
cada um adapta a si a língua são um enriquecimento, não um empobrecimento?
O português de Portugal é a fonte, e enquanto tal deveria permanecer como
uma referência. Qual a importância de haver uma referência? É fundamental. É imprescindível quese possa recorrer a um modelo que transporta em si os sinais da origem. Deve haver um
respeito pela etimologia das palavras, pela história da sua formação, sem o qual a língua se torna
unicamente um instrumento. Sem História, sem tradição, sem identidade. Sem força.
Significa isto que a língua não pode transformar-se? Que faria sentido escrevermos ainda "pharmacia"?
Não. Significa simplesmente que essa transformação deve ocorrer naturalmente, em vez
de ser imposta em nome de uma estratégia política; e que registar a mudança, exige uma
coerência e um suporte científico que faltaram completamente neste acordo. Assistimos a uma simplificação arbitrária, a um desbastamento, sem razão, de acentos e de consoantes mudas, imposto certamente por pessoas que não compreendem o sentido desses acentos ou dessas consoantes, e para quem escrever "ata" (verbo atar) não é diferente de escrever "ata" (substantivo: a
acta de uma reunião).
Mais do que isto, a simplificação arbitrária de uma língua corresponde a um afunilamento que terá
consequências: 1. Na oralidade dos portugueses, a médio prazo, para começar. No caso de um povo
que_já tende a fechar as vogais, "espetador" [espectador] ou receção [recepção]
acabarão_por ser pronunciados exactamente como "espetador" [o que espeta] e
"recessão". Mas também, 2. Consequências intelectuais: a falta de exigência e de rigor, o uso de um_instrumento abastardado e rudimentar, em vez de uma língua rica e
carregada de subtileza, é uma forma de estupidificação.
Por todo o país se começa a escrever já segundo esta absurda imposição. Como se
fosse normal.
Como se não houvesse alternativa. "Tem de ser", diz-se. "Não há retorno", ouve-se.
Como se fosse mais importante cumprir uma lei inculta, do que a própria cultura.
Não há retorno? Talvez sim. Talvez valha a pena resistir. O português merece-o.
Talvez a solução seja seguir a língua, isto é: desobedecer. Desobedecer ao acordo. Discordar na prática. Por outras palavras: escrever bem.
Gil Duarte e maria morais
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