terça-feira, 29 de julho de 2014

Quo Vadis Cascais?

Como é meu hábito, e porque os preços dos transportes são excessivos (pelo menos para a minha carteira), no outro dia fui até Cascais, a pé. 
Faço o meu trajeto pelo Monte Estoril, passo pelo Hotel Atlântico, perdão, já não é Hotel Atlântico, é a luxuosa obra no sitio do Hotel Atlântico, que irá passar a designar-se "Empreendimento Atlântico Estoril Residence".
Bem, perante aquele... (nem sei como classificar), paro, cismo e digo para com os meus botões: 
Tanta algazarra, tanta confusão, tanta perturbação no trânsito, tanta árvore arrancada, para quê? 
É só mais uma obra de e para os nossos amigos, aqueles que detêm o grande capital. Mais uma "obra" que terá como efeito contribuir para o acentuar da descaracterização da paisagem (até aqui) única, da Costa do Estoril.
O transito está congestionado? 
Não se chateiem, não há problema, a obra é para aqueles que se acham donos disto tudo, é tudo perfeitamente normal, mesmo que a linha de Cascais caminhe a passos largos para se tornar numa espécie de Reboleira de Luxo, com betão e asfalto por todo o lado. 
Lembremos os tristes exemplos do empreendimento "Oniris", devastando as dunas que era suposto serem protegidas, junto ao Forte de S. Jorge dos Oitavos. 
Lembremos o mega-empreendimento da Quinta dos Ingleses em Carcavelos -Sul que se prepara para avançar contra tudo e contra todos. 
Lembremos a megalomania do empreendimento à volta da Academia Aga Khan, junto ao Guincho e acordemos de uma vez por todas para esta dura e triste realidade: 
Estão a descaracterizar a linha de Cascais. 
Estão a destruir a sua beleza natural e as zonas mais típicas da sua paisagem. 
Estão a entregar a interesses gananciosos de obscuros grupos económicos, extensas áreas do nosso Património Natural para ser betonizado, asfaltado e vendido a quem der mais. 
Perante o que se está a passar, só me ocorre um sentimento: Nojo!
Se fosse para ajudar quem mais precisa não se dariam ao trabalho de fazer isto tudo, talvez nem no assunto pensassem.

Proporções desmesuradas, luxos para elites, lucros chorudos para grupinhos empresariais, tudo em prejuízo da paisagem e do património natural 
O que realmente importa a quem hoje decide em Cascais, é fazer alojamentos para os "grandes":
Promover o turismo de alto (ou altíssimo) luxo no concelho, em detrimento da oferta para as classes médias e médias altas.
Não é que eu desgoste da obra, (não vamos discutir gostos) até acho que vai ficar uma "coisa" gira, só que eu penso de outra forma: 
Não era preferível fazer um hotel que atraísse o turismo para diversos estratos sociais, já que Cascais é conhecida por ser uma vila de Turismo?
Não era preferível criar mais postos de trabalho (que nos dias que correm são mais do que necessários, já que que qualquer posto que se crie será sempre insuficiente), alargando a oferta do número de quartos do hotel em causa ?
Ora, eu - como cidadão preocupado com os níveis de desemprego e a horrível social do país - penso assim, mas claro, a minha opinião vale o que vale. 
Uma coisa não pára constantemente de se confirmar, que é o que dizia o poeta Zeca Afonso: "Eles comem tudo e não deixam nada!"... 
Pergunto: Que concelho de Cascais pretendemos deixar às gerações vindouras?

Volumetrias cada vez mais descomunais a impor-se na paisagem costeira onde já vão escasseando os característicos elementos naturais

Excerto do site promocional do empreendimento:
"O Empreendimento Atlântico Estoril Residence é composto por 25 apartamentos com qualidade premium e de grandes dimensões. As tipologias vão do T2 ao T5 e as áreas oscilam entre os 185 e os 405 metros quadrados.
Nos três primeiros pisos residenciais situam-se os apartamentos de menores dimensões (T2, T3 e T4), garantindo o compromisso de privilegiar a relação dos principais espaços com os amplos terraços do lado do mar. No piso 6 as tipologias são um T2, um T3, dois T4 e um T4+1. Nos pisos 7 e 8 as tipologias são dois T4 e dois T4+1.
Todas as residências desfrutam de amplas vistas para toda a orla marítima, também possíveis das cozinhas e casas-de-banho dos apartamentos. O estacionamento atribuído a cada módulo residencial varia entre os 2 e os 6 lugares. Os residentes beneficiam da prestação integrada dos serviços do hotel e de todas as suas infra-estruturas
(SPA, restaurante, bar, piscinas, etc).
O projecto integra um conceito inovador para o reposicionamento estratégico da unidade, assente na materialização de um sofisticado espaço hoteleiro integrado num contexto residencial de alto luxo. Do lado do oceano, rasgaram-se as vistas sobre o mar, com grandes varandas e terraços, usando-as como antecâmaras das generosas áreas interiores." 

Fontes:
www.atlanticoestorilresidence.com

www.portadafrente.pt/empreendimento/43771/atlantico-estoril-residence/cascais/?dty=feats#sthash.O9qfylen.dpuf


Frederico Martins

Sem comentários:

Enviar um comentário

Comente