O que se espera de uma autarquia?
Que a nível local tome medidas para apoiar a população residente,
de acordo com o interesse popular e visando o bem comum. Que através da sua
atividade torne a vida menos pesada e menos difícil a quem habita na sua área
geográfica. Que cumpra um programa eleitoral apresentado a sufrágio e aprovado
pelo voto. Estas são respostas plausíveis
à pergunta inicial, que, como é natural, estão na mente de muitos munícipes do nosso
concelho.
Só que em Cascais, a coligação atualmente no governo autárquico
não apresentou programa eleitoral. Sim, é verdade: A coligação vencedora não se
deu ao trabalho de elaborar e apresentar um simples programa eleitoral.
Nas palavras do presidente da edilidade “não precisamos de
programa; Temos uma estratégia”.
É de acreditar que este tipo de atitudes e afirmações tenha
contribuído significativamente para a abstenção verificada no acto eleitoral:
62% dos eleitores não foi votar. Nestas circunstâncias um voto equivale praticamente
a um cheque em branco, visto não ser apoiado em qualquer compromisso traduzido
num programa eleitoral.
Este tipo de afirmações e atitudes por parte da autarquia constituem
apenas mais um sinal de uma actuação pouco normal:
Não é normal que num concelho com tantas carências,
disfunções e assimetrias, a autarquia caracterize a sua atividade pela promoção
de grandiosos projetos imobiliários com impactos ambientais altamente negativos
e tendo em vista o benefício dos mesmos interesses particulares de sempre: Os de grupos e fundos financeiros privados. São claramente os casos das
mega urbanizações previstas para a Quinta dos Ingleses e para a denominada “Academia
Aga Khan”.
Não se pode considerar normal que uma autarquia se afirme
pelo seu permanente investimento em propaganda, pela sua omnipresente máquina de
autopromoção, com a emissão constante de boletins, agendas e jornais de
distribuição gratuita, outdoors e placards publicitários por todo o lado, em
campanhas publicitárias permanentes.
Qual o dispêndio
municipal anual em propaganda?
Nunca será com clareza revelado. Os valores das verbas despendidas
em publicidade são dispersos por uma infinidade de itens orçamentais,
perdendo-se na complexidade de intermináveis relatórios de contas,
indecifráveis para o comum dos cidadãos. Este assunto merecia uma peritagem que
trouxesse luz às contas de uma contabilidade cronicamente deficitária, com prioridades
de mais do que duvidoso critério.
Perante estas políticas autárquicas, o que fazem as
oposições?
Falando genericamente das forças da oposição, é justo
relevar o empenhado trabalho parlamentar de denúncia, crítica construtiva e resistência
às iniciativas que se mostram lesivas do ambiente e da qualidade de vida dos
residentes. Sendo essa atividade importante e útil, é no entanto invisível aos
olhos de uma população concelhia tantas vezes alheada da realidade política
local. Sente-se que é necessário algo mais.
Esse “algo mais” é um projeto de governo autárquico construído
a pensar nos seus munícipes e em medidas concretas que melhorem a sua qualidade
de vida. Um projeto que reúna um consenso alargado e uma amplo apoio político
que o torne ganhador.
A verdade é que até agora os habitantes do concelho não parecem
vislumbrar alternativas consistentes ao poder que se instalou há décadas no município
e assim vão ficando em casa na hora de votar.
Faltam propostas claras e fiáveis para uma gestão municipal
que resolva problemas e melhore a vida de quem reside no concelho. Falta um
programa consistente e credível para as concretizar. Um programa que faça a
diferença, elaborado a pensar antes de mais nas pessoas e na melhoria das suas
condições de vida.
Carlos Silva
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