sábado, 6 de setembro de 2014

Expectativas

O que se espera de uma autarquia?

Que a nível local tome medidas para apoiar a população residente, de acordo com o interesse popular e visando o bem comum. Que através da sua atividade torne a vida menos pesada e menos difícil a quem habita na sua área geográfica. Que cumpra um programa eleitoral apresentado a sufrágio e aprovado pelo voto.  Estas são respostas plausíveis à pergunta inicial, que, como é natural, estão na mente de muitos munícipes do nosso concelho.
Só que em Cascais, a coligação atualmente no governo autárquico não apresentou programa eleitoral. Sim, é verdade: A coligação vencedora não se deu ao trabalho de elaborar e apresentar um simples programa eleitoral.
Nas palavras do presidente da edilidade “não precisamos de programa; Temos uma estratégia”.
É de acreditar que este tipo de atitudes e afirmações tenha contribuído significativamente para a abstenção verificada no acto eleitoral: 62% dos eleitores não foi votar. Nestas circunstâncias um voto equivale praticamente a um cheque em branco, visto não ser apoiado em qualquer compromisso traduzido num programa eleitoral.
Este tipo de afirmações e atitudes por parte da autarquia constituem apenas mais um sinal de uma actuação pouco normal:
Não é normal que num concelho com tantas carências, disfunções e assimetrias, a autarquia caracterize a sua atividade pela promoção de grandiosos projetos imobiliários com impactos ambientais altamente negativos e tendo em vista o benefício dos mesmos interesses particulares de sempre: Os de grupos e fundos financeiros privados. São claramente os casos das mega urbanizações previstas para a Quinta dos Ingleses e para a denominada “Academia Aga Khan”.
Não se pode considerar normal que uma autarquia se afirme pelo seu permanente investimento em propaganda, pela sua omnipresente máquina de autopromoção, com a emissão constante de boletins, agendas e jornais de distribuição gratuita, outdoors e placards publicitários por todo o lado, em campanhas publicitárias permanentes.
Qual o dispêndio municipal anual em propaganda?
Nunca será com clareza revelado. Os valores das verbas despendidas em publicidade são dispersos por uma infinidade de itens orçamentais, perdendo-se na complexidade de intermináveis relatórios de contas, indecifráveis para o comum dos cidadãos. Este assunto merecia uma peritagem que trouxesse luz às contas de uma contabilidade cronicamente deficitária, com prioridades de mais do que duvidoso critério.
Perante estas políticas autárquicas, o que fazem as oposições?
Falando genericamente das forças da oposição, é justo relevar o empenhado trabalho parlamentar de denúncia, crítica construtiva e resistência às iniciativas que se mostram lesivas do ambiente e da qualidade de vida dos residentes. Sendo essa atividade importante e útil, é no entanto invisível aos olhos de uma população concelhia tantas vezes alheada da realidade política local. Sente-se que é necessário algo mais.
Esse “algo mais” é um projeto de governo autárquico construído a pensar nos seus munícipes e em medidas concretas que melhorem a sua qualidade de vida. Um projeto que reúna um consenso alargado e uma amplo apoio político que o torne ganhador.
A verdade é que até agora os habitantes do concelho não parecem vislumbrar alternativas consistentes ao poder que se instalou há décadas no município e assim vão ficando em casa na hora de votar.
Faltam propostas claras e fiáveis para uma gestão municipal que resolva problemas e melhore a vida de quem reside no concelho. Falta um programa consistente e credível para as concretizar. Um programa que faça a diferença, elaborado a pensar antes de mais nas pessoas e na melhoria das suas condições de vida.  


Carlos Silva

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