Em Cascais tudo na mesma. Passa o tempo e persistem os
mesmos problemas sobretudo para quem habita fora dos principais centros urbanos
do concelho, nas largas dezenas de pequenas localidades de Cascais.
Problemas para as pessoas se deslocarem, com o serviço
deficiente dos transportes públicos,a falta de articulação de horários entre CP
e Scotturb, a ausência de estacionamentos para servir o acesso às estações e
aos centros das localidades, a falta de passeios pedonais e a degradação dos
existentes, os preços elevados dos transportes públicos rodoviários.
Ai de quem se desloque a pé em localidades como Areia,
Birre, Malveira, Trajouce, Murches ou tantas outras do nosso concelho: Terá que
caminhar por entre o trânsito, em bermas inclinadas, enlameadas, irregulares e
escorregadias onde o peão está constantemente exposto a acidentes devido à ausência
de passeios que lhe garantam condições mínimas de segurança. Num tempo em que as autoridades de saúde
promovem os benefícios das caminhadas, torna-se impossível a muitos cidadãos percorrer
pelo seu pé os escassos quilómetros que medeiam entre tantas localidades do
concelho de Cascais:
Passeando nas ruas de Alcabideche, este grupo não tem alternativa: Tem que caminhar no asfalto porque não existem passeios. |
Faltam os passeios que garantam uma circulação pedonal segura,
sendo os peões forçados a um “convívio” demasiado íntimo com veículos que se
deslocam a 40, 50 e 60 km/h e que lhes passam frequentemente a centímetros de
distância. É assim, por exemplo, na estrada que liga Areia a Birre, Malveira a
Janes, Pisão a Alcabideche, sendo assim também na via que a partir desta sede
de freguesia faz a ligação com a rotunda condes de Barcelona, no Estoril, para
citar apenas alguns exemplos.
No nosso concelho, a atividade comercial continua em
declínio, com variadíssimos estabelecimentos a encerrar e uma notória redução do
comércio de proximidade. Quem não disponha de veículo próprio para se deslocar
a uma grande superfície, está em clara desvantagem: Ou espera longos períodos
por transportes públicos caros e irregulares, ou vai a pé tantas vezes por mau
caminho, tendo que carregar o peso das compras. É esta a vida de muitos dos
residentes aposentados, com magras reformas, enfrentando sérias dificuldades
económicas que os impedem de se deslocar de outra forma.
Nos bairros e nas pequenas localidades, rareiam os espaços
públicos vocacionados para o encontro entre moradores, para o diálogo e a
comunicação, sem os quais fica grandemente dificultada a vivência comunitária,
ou o simples encontro e comunicação entre moradores. Uma comunidade para ter
vida própria tem que ter espaços próprios onde compareça e se encontre. Espaços
com um mínimo de condições: Dotados de mobiliário urbano, de sombra e de
abrigo, de fontanários, de árvores e floreiras, de bancos, de placards
informativos, de eventos e de proximidade em relação ao comércio local e aos
serviços, para que possamos ver praças, largos e jardins públicos povoados de
cidadãos, em interação e sã convivência, onde os mais solitários possam
encontrar companhia e a troca solidária possa fluir, onde crianças possam dispor
de espaço vital, para correr e brincar em segurança e onde a palavra comunidade
possa reforçar o seu sentido.
A centenária Murtalense mostra dinamismo e apresenta muita actividade, mas no concelho várias associações e colectividades lutam para sobreviver por falta de apoio ao seu meritório trabalho |
As colectividades desenvolvem com dificuldade o seu
importante papel de pólos de dinamização cultural, desportiva e recreativa.
Muitos dirigentes de colectividades sentem-se desapoiados pela sua autarquia e
vêem-se obrigados a reduzir as suas actividades. Ao mesmo tempo, largos sectores da juventude queixam-se de falta de alternativas para a ocupação de tempos de lazer e de espaços de
encontro e convívio.
Enquanto entidades colectivas, as comunidades de moradores
encontram-se fragilizadas pelo estilo de vida que faz do local de residência
apenas dormitório e por uma mentalidade de “cada um por si”, que ignora o “nós”
e sobrevaloriza o “eu”.
Na saúde nada se faz a nível local para contrariar a tendência
nacional de redução dos serviços assegurados pelo SNS. Milhares de pessoas em
Cascais não possuem médico de família atribuído e continuam a esperar largos
meses por consultas de diversas especialidades. Qual o papel dos representantes
da autarquia que participam na direcção do agrupamento de centros de saúde do
concelho de Cascais?
O que se espera da autarquia?
Que governe para as pessoas que aqui vivem, de acordo com os
seus interesses, para lhes tornar a vida menos difícil e menos pesada, ou que
governe para a satisfação de interesses particulares e de grupo?
Carlos Augusto Silva
Carlos Augusto Silva
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